Arco - Íris (Vermelho)
Caminhamos em direção aos seguranças da porta de mãos dadas, meus dedos ainda quentes e levemente úmidos segurando os dela. Havia um enorme portal todo decorado de
flores de metal dourado, e uma cortina branca e pesada que protegia totalmente
a visão de quem olhasse de fora. Chegando mais perto, percebemos que era uma
camada tripla de cetim. Sem nos dirigir palavra, apenas puxaram cordas que
estavam ao alcance de suas mãos, e as cortinas se abriram, liberando a passagem,
através de um longo corredor com um tapete vermelho. Quando entramos, mesmo
acostumada com o padrão de festa que o papai costuma dar, meu queixo caiu.
Tinha uma
ORQUESTRA afinando e limpando instrumentos, abrindo pedestais, foleando
partituras. Contei por baixo uns oitenta músicos, até uma harpa eu vi.
-É bom que
ela diga sim – Vanessa falou do meu lado – odiaria ver a cara do seu pai se ela
mudar de ideia, olha isso!!
Olhei pra
onde a cabeça dela apontava. Dava pra ver ao fundo através do balcão de uma
cozinha, e nela um funcionário com um king krab na mão. Continuamos olhando,
mesas e cadeiras todas de acrílico transparente, dando um aspecto de vidro, as
mesas cobertas por mais cetim branco. Em praticamente todas os convidados já
bebiam vinho ou champagne, e eu reconheci os mesmos rótulos caros dos quais
papai sempre falou com tanta paixão. Ao fundo, um juiz se pavoneava com a
gravata lhe apertando o pescoço, conferindo inúmeras vezes se a caneta tinteiro
dourada estava funcionando corretamente e sem vazamentos. Ali perto, um padre
com batina branca finamente bordada em ouro quase se misturava com a decoração,
seus dedos acariciando um rosário. Ele porém não rezava, seus olhos passeavam
muito alertas por todo o salão, como que querendo ler as almas pecadoras de
todos nós.
-Com licença?
Demos um
passo pro lado, passou uma senhora bem idosa atracada no braço do que me
pareceu ser seu filho. Foram até a mesa livre mais próxima, e ele a ajudou a se
sentar. Nesse meio tempo, mais gente foi chegando e se espalhando. Vanessa
apertou minha mão:
-Andreia, vamos
antes que a gente acabe em pé. Não me parece haver placas marcando as mesas.
Fomos
passando em torno das mesas depressa, aqui e ali eu tinha que parar pra falar
com algum parente, e felizmente poucos fizeram caretas quando apresentei minha
namorada, com todas as letras. Consegui fugir dos convites pra me sentar com
eles, fomos pra um canto bem distante, ainda lotado, mas pelo menos eram todos desconhecidos,
e ali o som da orquestra não chegaria tão forte, e nos sentamos. Do além brotou
um garçom nos oferecendo algo pra beber. Pedimos cerveja de trigo e quando ele
vinha em direção à mesa, se iniciou uma comoção. Os noivos haviam chegado. O garçom
quase voltou pra cozinha, mas o encorajei a vir depressa com a nossa cerveja
antes de desaparecer. Servi eu mesma nossas taças, e brindamos aos noivos antes
mesmo da orquestra começar a tocar. As cortinas se abriram.
Meu pai e
minha nova madrasta estavam lindos e radiantes. Nenhum deles tem os pais vivos,
então decidiram entrar juntos logo de cara, puxando atrás de si o séquito de
padrinhos, todos vestidos com as mesmas roupas, de tecido fino e corte apurado.
Acabei deixando uma lágrima escapar, e o polegar dela rapidamente limpou. Dei
um beijo em sua mão antes de voltarmos nossa atenção à cerimônia.
Correu tudo
nos conformes, nenhum imprevisto sequer. Os pirralhos com as alianças não
caíram, ninguém da orquestra perdeu o compasso, o padre não gaguejou, e a noiva
disse sim (nessa hora nós duas nos olhamos e trocamos uma expressão de falso
alívio). Tudo terminado, incluindo a parte jurídica (a caneta não falhou),
papai pegou um microfone e gritou simplesmente:
-A FESTA É
NOSSA!!!
Todo mundo
gritou e aplaudiu, e de lugar nenhum saíram fogos de artifício. Mais aplausos,
e começaram a brotar garçons oferecendo mais bebida e anotando pedidos. Era uma
insanidade, haviam oito opções de entradas, pratos principais e sobremesas, e
mais de vinte tipos de bebidas. Foi meio difícil escolher porque a cerveja de
trigo já tava fazendo um leve efeito. Selecionamos qualquer coisa só pra nos livrarmos
do garçom e Vanessa imediatamente se levantou e veio pra perto de mim. Se
abaixou na altura da minha orelha.
-Eu tô te
devendo.
-Como
assim?
-Pelo
carro, foi uma delícia. Quero pagar...
Falou
aquilo num sussurro bem baixinho, e me deu uma mordiscada na orelha.
-Você tá
maluca, vai fazer o quê? Entrar debaixo da mesa e me chupar?
-Esse lugar
é muito grande, aposto que os banheiros são tão elegantes quanto todo o
resto...
Me virei
pra ela, nossos rostos bem pertinho. Ela tava sorrindo de canto de boca, me
desafiando. Não consegui resistir e me levantei.
-Garçom!
Ei! Pra onde ficam os banheiros?
Ele me
apontou a direção e me deu instruções de como chegar. Fomos depressa, por vezes
tendo que nos separar pra dar a volta em mesas e garçons, mas a maior parte do
tempo conseguimos ir de mãos dadas. A área dos banheiros era bem afastada, e
estava milagrosamente vazia no momento. Um longo corredor, com portas
exatamente iguais à direita e à esquerda. No começo do corredor, duas placas
laterais com desenhos, uma com uma cartola, outra com um colar de pérolas. Fui
batendo nas portas dos banheiros até encontramos um vazio, e entramos depressa
antes que alguém nos visse.
Mal deu
tempo de eu fechar a porta atrás de mim, já tomei uma prensa, e vejo uma mão
atrevida tentando puxar meu vestido pra cima. A boca já vem de novo no meu
ouvido:
-Você devia
tá com um vestido igual o meu, tudo seria mais fácil.
-Então você
quer que eu seja uma mulher fácil?
-Só pra mim
Andreia, só pra mim. Vem cá...
Me rodou ao
mesmo tempo que me conduziu pra pia de pedra branca. Pegou meu pescoço com
firmeza, mas sem brutalidade, na nuca, e me beijou. Eu preferi imitar uma cena
de filme, e puxei a perna que o vestido deixava exposta, trazendo-a pro meu
lado e apertando embaixo, onde eu sabia que ia ficar uma marca, mas que ninguém
mais ia ver. Uma das mãos dela se soltou do meu pescoço e segurou na pia atrás
de mim.
-Sua
maluca, você me derruba desse jeito...pera, vamos tirar o salto...
Engatamos o
beijo de novo, com ainda mais fome, e descemos dos saltos ao mesmo tempo. Ela
acabou mordendo meu lábio no movimento.
-Sério que
você vai me machucar no casamento do meu pai?
Fiz carinha
de manha. Ela me abraçou, falou bem pertinho de mim.
-Desculpa
meu bem, deixa eu dar um beijinho pra sarar...num lugar especial...
Se curvou
um pouco, passando as mãos por trás das minhas coxas, e olhou pra cima. Fiz
força na pia ao mesmo tempo em que ela me deu impulso, e pronto, me sentei ali.
Puxei o vestido por baixo das coxas, até ficar nua do quadril pra baixo, e de
repente me dei conta de como aquela pedra tava fria.
Ela abriu
bem minhas pernas e ficou entre elas. Me beijou de novo.
-Sua
depravada, não consegue ficar quieta nem no casamento do próprio pai...
-Você que é
a culpada, me fazendo cometer essa blasfêmia...
Rimos
baixinho uma pra outra, a mão dela já dentro das minhas coxas, perto, bem
perto. E nessa hora, alguém bate na porta.
-Tem
gente!!!
Tampamos
nossas bocas, assustadas. Falamos ao mesmo tempo. Olhamos na direção do rodapé
da porta, as sombras se afastaram. Rimos em silêncio.
-Na próxima
você responde, afinal a festa é sua.
Ela me
disse isso abaixada no chão, arrumando um par de saltos de forma que pudesse se
ajoelhar sobre eles. Agarrou minhas coxas e me puxou mais pra borda da pia.
-Hora do
acerto de contas...
Eu mesma
tive que morder meu lábio. Sempre fui mais escandalosa, e a adrenalina de fazer
isso aqui deixou tudo mais intenso. Tampei a boca com a mão e apertei com
força. Ela olhava pra mim e dava apenas lambidas longas, só me testando.
Começou mais uma bem lá embaixo, mas parou pertinho do “capuz”. Era só subir
mais um pouco e...
Fechei os
olhos. Ela tinha vindo com a ponta da língua bem ali, me deixado toda exposta.
Senti suas mãos subindo pelo meu vestido até o decote e olhei de novo. Eu tinha
apertado as coxas, mas isso nunca a impediu, e hoje não seria diferente. Mudou
o movimento da língua, e apertou meus peitos. Dei um grito abafado e comecei a
tremer. Minhas pernas afrouxaram, e ela se valeu disso pra fazer ainda mais
pressão com a boca. Me babei toda, tremendo, e a vi lambendo tudinho, sem tirar
os olhos dos meus. Deu uma assopradinha que me subiu um arrepio delicioso pela
espinha. E ficou de pé de novo.
Nos
beijamos, ela vitoriosa, eu cansada. Desci da pia, arrumei o vestido, calçamos
os saltos. Antes de sair, uma última olhada no espelho. Nossa maquiagem tava
completamente arruinada. Decidimos lavar tudo. Era isso, ou voltar pra festa
com o rosto todo manchado de batom vermelho.
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