Hierarquia - Cap.1
Terminei
meu banho num misto de nervoso e ansiedade. Hoje é um dia especial
pra mim. Pra nós. Enxuguei o cabelo, passei creme, fiz uma trança.
Me olhei no espelho de corpo todo do quarto. Segurei meus seios nas
mãos, massageei de leve. Olhei minhas coxas. Nenhuma marca. Virei de
lado, olhei a bunda. Lisa também. Pensei em dar um tapa, mas isso
não cabe a mim. Tenho quem me faça esse carinho.
Andei
até a cômoda e olhei os frascos de perfume, até que tomei coragem
pra pegar um frasco específico. Espirrei um pouco da mão esquerda,
esfreguei na direita. Passei entre as pernas, na virilha, até perto,
bem perto. Passei no pescoço também, atrás das orelhas. Fechei os
olhos, respirei fundo, pensando no que me aguardava. Percebi que meu
corpo todo tava tremendo levemente, como sempre. A expectativa é tão
excitante…
Me
ajoelhei e puxei uma mala debaixo da cama. Abri o zíper, e olhei
tudo ali dentro. Hoje foi me dada a regalia de escolher, mas eu sabia
que isso teria um preço. Sempre tem. E eu me orgulho de ser boa
pagadora. Peguei o chicote de tiras. Um plugue. Dois pares de algema.
E um vibrador clitoriano. Me arrepiei pensando nas possibilidades. E
decidi levar o jogo mais além. Fechei a mala, e empurrei pra baixo
da cama de novo. Tateei debaixo dela, perto da parede da cabeceira,
até que encontrei o que eu queria, e que faz meses que não uso. O
afastador de pernas.
Passei
a mão por dentro das alças de couro, macias como na minha memória.
Fivelas grandes e fortes, presas à haste de madeira envernizada por
argolas de metal. Ouvi lá fora o som do carro chegando, mas não me
preocupei. Ainda teria um tempo só meu.
Arrumei
tudo na cama. O afastador perto do final, plugue e vibrador lado a
lado no meio, algemas sobre os travesseiros. Mais barulho, agora na
cozinha. Tilintar de copos. Minha respiração acelerou um pouco.
Conferi todo o quarto de novo e de novo. Tudo em ordem. Me olhei no
espelho outra vez. Peguei minha trança e puxei o mais forte que
consegui. Firme como deve ser. Passos perto da porta. Pararam. Agucei
o ouvido. Farfalhar de tecido. Parou. Vi a maçaneta se mexer.
Quando
a porta abriu, eu estava de frente pra ela, de joelhos no piso frio,
com as mãos cruzadas nas costas, e olhando pro chão. Como sempre,
pude acompanhar seus movimentos pelo reflexo difuso do porcelanato.
Passos macios, lentos, calculados. Fechou a porta. Foi para a cômoda,
deixando lá anel e relógio, enquanto respirava fundo, farejando o
ar. Vi quando fez um aceno de negação com a cabeça. Se virou pra
cama, fazendo a inspeção, conferindo minhas escolhas. Gostou do que
viu, pois não fez nenhuma observação. Tirou o sapato. Colocou ao
lado da porta do banheiro. Veio andando até mim, cada passo
demorando cem anos, até que parou bem na minha frente, os pés
paralelos aos meus joelhos. Passou as duas mãos na minha cabeça, e
pegou a trança. Travei a boca.
Puxou,
puxou e puxou, tão forte que me fez erguer o corpo para aliviar a
dor.
-Levanta.
Me
permiti ficar em pé, ainda conduzida pelo puxão. Uma das mãos se
liberou e me pegou pelo queixo. Me fez olhar em seus olhos.
-Você
está usando o meu perfume?
-É
que…
Levei
um tapa na cara.
-É
que?
-Fiquei
com muita saudade da minha senhora, então quis relembrar seu cheiro.
Nos
encaramos por um momento. Eu totalmente lavada, ela ainda com a
maquiagem leve com a qual chegou. Sustentei o quanto pude seu olhar.
Quanto mais aquilo se alongava, mais eu tinha vontade de avançar, de
beijar, borrar todo aquele batom tão bem desenhado. Abaixei a cabeça
de novo, o rosto começando a arder.
-Me
perdoe senhora. Por favor.
A
outra mão na minha trança cedeu.
-Nós
duas sabemos que não haverá perdão. No máximo, alguma
misericórdia. Vem aqui.
Ela
parou na frente do espelho. Deu um tapinha no próprio ombro, na alça
do vestido, mostrando o que eu deveria fazer. Empurrei as alças pros
seus braços. Pus minhas mãos pouco abaixo de suas axilas, e
deslizei o vestido corpo abaixo. Nenhum sutiã, mas havia uma
calcinha de renda sem elástico, daquele modelo mais quadradinho,
preta. Dei a volta, me ajoelhei na sua frente. Apoiei as mãos em seu
quadril, e desci rumo às coxas, levando a calcinha junto. Olhei pra
cima. Ela mirava o espelho, vendo nosso reflexo. Baixei a cabeça, eu
estava bem de frente pra ela, minha boca chegou a salivar.
-Nem
pense nisso. Você não merece. Cuide dessa roupa.
Ela
saiu andando, foi em direção ao banheiro. Entrou e fechou a porta.
Peguei a calcinha e cheirei. Beijei bem ali. Juntei o vestido também
e me levantei. Coloquei num cabide, pendurei no roupeiro. Fiquei sem
saber o que fazer com a calcinha.
-Senhora?
-O
que é, vadia?
-A
calcinha, onde eu coloco?
-Entre
aqui no banheiro, a porta não tá na chave.
Entrei.
Ela estava terminando de tirar a maquiagem. Fiquei segurando a
calcinha dentro da mão, e de olhos baixos. Quando ela terminou,
enxugou o rosto na toalha, e se virou pra mim.
-Me
dê.
Estendi
a mão com a calcinha e lhe entreguei. Algo no tom de voz dela ligou
o alerta no meu corpo, antes que eu percebesse minha respiração
ficou mais rápida.
-Levante
a cabeça, venha cá.
Me
aproximei. Ela tinha uma expressão divertida, a cabeça pendendo pra
um lado, como uma criança prestes a usar um brinquedo novo.
-Você
disse que tava com saudade de mim, não foi?
Empurrou
a calcinha na minha boca, tão fundo quanto conseguiu. Segurei um
pulso com o outro, resistindo ao instinto de empurrá-la, de me
defender.
-Vai
ficar sentindo meu gosto então, já que estava com tanta saudade.
Enrolou
uma mão na minha trança e saiu me puxando pro quarto, eu tropeçando
por ter que andar meio de lado, quase de costas. Ela me levou até o
espelho, e me empurrou pra baixo, me fez ajoelhar de novo. Vi pelo
reflexo ela puxando a mala debaixo da cama e pegando algo lá. Voltou
até mim. Passou a mordaça pela minha cabeça, colocou segurando a
calcinha dentro da minha boca seca, já tava morrendo de sede. Puxou
minha trança pra cima com uma mão, e me fez carinho na bochecha com
a outra.
-Vou
te ensinar...vou te colocar no seu devido lugar...foi você que fez
por merecer…
Quando
ela ergueu a mão, eu fechei os olhos.
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