Pedido

Era uma festa enorme da família de Carlos. Os avós estavam comemorando 60 anos de casamento, e o velho jura que ainda dá trabalho. Aline é claro, tinha obrigação de ir, afinal era namorada de Carlos a cinco anos, e estavam até mesmo com planos de passarem a finalmente morar juntos, dali alguns meses.

Seria uma festa no sítio da família, um lugar reservado, onde poderiam fazer o barulho que quisessem pelo tempo que desejassem (palavras da sogra, filha do casal de anciãos). A família chegaria de manhã, para gerenciar a organização da festa que um aniversário desses merece. Carlos foi dispensado, pois seria músico no começo da festa, por umas três horas seguidas, logo após a renovação de votos, então nosso jovem casal só vai chegar realmente as quatro da tarde, quando seriam iniciadas as solenidades, milimetricamente calculadas para que o beijo final fosse dado ao por do sol.

Vamos encontrá-los já na estradinha que levava até à porteira. Uma enorme fila de carros se estendia a frente e atrás dos nossos pombinhos, que podem não estar atracados, mas vontade não falta. Ela lhe faz carinho sobre o volume da calça social. Ele faz carinho muito acima da coxa por baixo do vestido preto. O carro vai serpeando suave até passar pela porteira. Ele a deixa na porta do casarão, e vai com o carro até o trecho reservado como estacionamento da equipe de trabalho. Lá, ele desce seu violoncelo, deixando-o já afinado, demorando mais nessa tarefa do que gostaria devido ao burburinho e ao cumprimentos das dezenas de parentes e amigos da família. Ajeita o arco, deixando a crina devidamente penteada, perfeita. É hora de preparar mais uma coisa. Vai até o carro, nervoso, e de dentro da caixa do tchelo, tira...

Aline já tinha ido algumas vezes no sítio, mas nunca, nem de longe, o tinha visto tão cheio. A casa enorme, pertencente à família desde os tempo do Brasil colônia, reboava com o tropeu de passos em todos os seus corredores finamente decorados. Busca pela sogra, e rapidamente a encontra belíssima, senhora de sí, fazendo jus à família de condes e barões da qual descende, falando com todos que por ela passavam com um sorriso encantador. Óbvio, não foi diferente com Aline, de quem gostava muito, e a recíproca era verdadeira. Trocaram beijos, se falaram um pouco, e Aline a deixou falando com o tio-avô de Carlos, que levaria a irmã ao altar, e foi a um dos banheiros. Precisava urinar, e mais importante, retocar a maquiagem.

... uma caixinha revestida de veludo preto. O conteúdo, um anel de noivado feito não de ouro,ou ouro branco, mas de aço negro, em forma de corrente, que iria simbolizar a força da relação deles, algo que (ele esperava) fosse a prova do tempo e de todas as interpéries da vida. E também tinha outro significado, mais oculto, mas que pertence só aos dois. Embolsou a caixinha, e foi em direção à casa, carregando também as malas dos dois. Os parentes mais distantes iam passar mais uns dois ou três dias por ali matando a saudade, e ele resolveu ir no embalo. Subiu a escada de pedra dando acenos de cabeça aqui e ali, até entrar no saguão e encontrar a mãe. Largou as malas e lhe deu um abraço.

-Tá gata hein dona Telma

-Gata tá a sua namorada, passou por mim, tão graciosa. Você tem que prender essa menina logo, lá se vão cinco anos.

-Eu sei mãe, eu sei, pretendo começar hoje, olha aqui, me diz o que acha

Puxou a caixinha do bolso e abriu rapidamente. A mãe passou os dedos pelo frio metal.

-Diferente, bonita, e bem sóbria. Combina com vocês. Ela tá vindo aí.

Carlos fechou a caixa e guardou no bolso, mas fez o gesto com as duas mãos pra disfarçar.

-Esteja atento filho, começamos em exatos...sessenta e sete minutos, não quero que você tenha nenhum – e deu um sorriso cheio de significado para os dois – tipo de atraso, fui clara?

Fechou a frase com uma risada alta e se virou para falar com outro recém chegado. Carlos pegou as malas de novo, fez um gesto de cabeça e foi seguido por sua namorada. Andaram pelos corredores até chegar a um trecho silencioso da casa, onde toda a zoada era ouvida de muito longe. Ele pegou a carteira, e dela tirou uma chave. Destrancou o quarto à frente deles. Entraram juntos.

Tudo como tinham deixado da última vez. A cama de mogno, os móveis antigos e charmosos, todos cobertos com panos. Foram tirando um a um, lentamente para não levantar a poeira acumulada. A janela, pequena, na altura dos olhos, do lado de fora da casa ficava pouco acima do nível do chão, e dava passagem à luz do sol.

Colocaram os lençóis num canto, e jogaram as malas em cima da cama. Ela se vira pra sair, e ele rápido coloca a caixinha do bolso debaixo de um travesseiro, e durante o movimento, fala alto:

-Agora não, espera um pouquinho.

Abraçou por trás, bem apertado, pousou o queixo no pescoço. Ela o sentiu, e jogou também o corpo pra trás.

-Eu também quero, você sabe, mas não temos tempo, sua mãe foi muito...

Ele ergueu a mão na frente dela. Juntou polegar e médio. Estalou. Um som breve e seco. Mas que bastou. Ela calou a boca na hora.

-Você tem mais maquiagem?

-Sim senhor.

O tom de voz dos dois mudou. O dele, mais lento, mais frio, quase distante. O dela, um sussurro, tímido, medroso, em busca de aprovação. Aprovação não do namorado. Do seu dono.

Ele a virou de frente pra sí. Apontou a própria gravata. Ela, bem ensinada que foi, sabia o que devia fazer. Tirou o fino tecido azul devagar, mantendo sempre o quadril bem perto dele, mas sem roçar, por mais que tivesse vontade. Virou de costas, esperou que ele a encoleirasse com a gravata. Foi sendo conduzida até a mesinha bem defronte a janela. Apoiou as duas mãos, empinou a bunda redonda.

Sentiu a mão grande subindo pela coxa, levantando o vestido bem cortado. O tapa se ouviu em seguida. Silêncio. Outro estalo, agora do cinto, uma, duas, três, vinte vezes, forte, arrancando gritinhos de dor como era de se esperar. Mas ele sabia, cada golpe aumentava a umidade da bucetinha lá embaixo. Se pôs atrás dela, subiu ainda mais o vestido, travou a mão apertando a bunda, a outra puxou pela gravata, causando sufocamento.

E meteu. Os corpos batendo com força, mantendo nela viva a dor das cintadas. A outra mão enrolada na gravata, puxando, mantendo a garganta fechada e impedindo que ela gemesse alto demais. Do lado de fora, as pessoas passando geravam sombras para dentro do cômodo onde aqueles dois se deliciavam em sua depravação. Foi quando ele deu um tranco mais forte, e uma puxada brusca na gravata, que ela gozou, de olhos abertos, gemido preso no peito, reconhecendo pela janelas o salto da mãe de Carlos.

Mas não teve tempo de pensar muito nisso, porque ele rapidamente a virou, puxando a gravata de cima pra baixo. Ela se pôs em seu lugar, lugar de serva, de vadia, ajoelhada, com aquele caralho duro e suculento na boca. Recebeu com alegria e paixão o carinho no cabelo, o leite na língua. Fechou os olhos, curtiu o sabor, chupou mais, querendo dele até a última gota. Guardou na calça de novo, passou e afivelou o cinto. Fechou os olhos.

O estalar de dedos se ouviu outra vez. Ela se levanta, tira a gravata do pescoço, lhe entrega. Se beijam com vontade. Ele fala, a voz de volta ao tom normal:

-Te amo sabia?

-É, eu também me amo, afinal de contas sou top.

Trocaram mais um beijo risonho e ela vai ao banheiro refazer a maquiagem, enquanto alisa o vestido sobre o corpo, as dores aflorando, fazendo ela querer mais ali e agora, mas não há tempo. Carlos refaz o nó da gravata, embolsa outra vez a caixinha, espera por ela. Quando ela sai do banheiro, abraça de novo, juntando a bunda com as duas mãos, fazendo ela gemer de dor, enquanto sente seu pau endurecendo de novo. Imprensado entre as coxas dos dois, ela sentiu algo cúbico, quase como se fosse…

Saíram do quarto de mãos dadas, ele assoviando a primeira música e conferindo o relógio. Tinha 4 minutos pra chegar, mas daria tempo. Desceu apressado a escada frontal, e foram quase correndo até o local da cerimônia. Viu de canto de olho dona Telma fazendo uma negação com a cabeça, mas sorrindo para os dois. Alice se sentou ao seu lado, a bunda ardida exigindo que ela fizesse movimentos lentos. Carlos foi até o palco lateral, falou rápido com os demais músicos, e a cerimônia começou.

Votos renovados, novas alianças trocadas, lágrimas derramadas, fotos devidamente registradas. Foi um sucesso, tudo saiu exatamente como planejado. Aline se pegou invejando aquele casal de anciãos, e lembrou de novo do que havia sentindo no bolso de Carlos, quando o vê indo ao mestre de cerimônias e pedindo licença pra falar ao microfone. Sentiu o coração palpitar de leve enquanto o via ajustando a altura do pedestal.

-Senhores, senhoras. Muitos daqui que me pegaram no colo, foram no meu batismo, nos meus aniversários. Quero que façam parte de um momento muito mais especial que esses na minha vida.

Enfiou a mão no bolso, puxou a caixinha. Aline prendeu a respiração, o viu abrindo a caixa e erguendo bem alto. Ela, e todos os demais, viram o fundo branco contrastando com um anel negro.

-Aline… Eu quero te fazer um pedido…

E dessa vez só ela viu.

Na outra mão, polegar e médio se juntaram.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cintura – Pt.3

Cintura - Pt. 2

Cintura - Pt.1