Talvez

Acordo de manhã, com uma réstia de luz entrando pelo vidro da janela, e passando por uma pequena brecha da cortina mal fechada. Sobre os lençóis revoltos, nossos corpos trocando calor. Você tá deitada no meu peito, de forma que o meu queixo tá quase colado no alto da sua cabeça adornada por belos cabelos brilhantes e bem cuidados. Mas no momento, despenteados. Nossa noite como sempre foi gostosa, e você quis descansar deitada no meu peito, onde acabou dormindo e está até agora. Pelo espelho ao nosso lado, consigo ver seu rosto, e um turbilhão de memórias me voltam.

Me lembro quando te ví pela primeira vez, numa calourada da faculdade, que foi um lual numa das praias do maior rio do estado Gata, risonha, cantando junto com a galera na rodinha de violão. Até que você pediu uma música que era um lançamento novíssimo de uma banda local pequena, e ninguém da roda sabia tocar, mas eu sim. Peguei o violão, ajustamos rapidinho a altura e cantamos juntos. Passada essa música, vieram outras, o violão foi passando de mão em mão, e eu sempre de olho em você, e  pra minha alegria, você de olho em mim. Se levantou dizendo que ia pegar mais cerveja. Perguntei pro pessoal ao meu redor quem mais queria, e fui também. Ao pé da caixa de isopor, começava nossa história, comigo pedindo seu número.

Papo vai, papo vem, além do gosto musical descobrimos muito mais em comum, nossa história foi crescendo e quando dei por mim, estávamos nos agarrando num aniversário de um colega em comum. A gente foi pra um canto escondido, você cheia de atitude me imprensou na parede e me atacou (tadinho de mim). Correspondi com uma mão na sua nuca, a outra apertando a bunda. No melhor do amasso chega uma galera, umas quinze pessoas de uma vez, os flashs dos celulares ligados, muitas risadas ébrias, e eu posso jurar que ouvi um “finalmente”. Esse dia marcou nosso começo, em alto estilo.

Dois dias depois você me chama pra sair, eu passo pra te pegar e você diz que vai me mandar o local onde quer ir comigo pelo celular. Abro o link do mapa, e meu melhor amigo aqui ficou de cabeça em pé. Você tinha marcado um motel. Estiquei a mão, apertei sua coxa desnuda (você tava de vestido, lembro bem, um vestido vinho curtinho). A sua mão pousou sobre a minha e reforçou meu aperto. Dirigi apressadamente, aproveitando pra dar uns amassos a cada sinal fechado, você com o mesmo perfume que usa até hoje, e com a maquiagem, antes impecável, agora toda borrada. Chegamos lá, e antes mesmo de entrar no quarto eu já tava colado em você, dando um chupão forte no seu pescoço. Você não deixou por menos, cravou as unhas no meu. Estávamos nos marcando. A partir daquele momento éramos um do outro.

Entramos no quarto, roupas voando pra todo lado, te puxei correndo pra cama. Já havia provado desses lábios, agora queria provar daqueles. Mas você não deixou, tinha urgência. Ofegou um breve “depois” e me fez sentar na cama e montou em mim, se encaixando e gemendo gostosamente. Me abracei as suas costas com força, mal te dando espaço pra rebolar. Suguei os bicos durinhos dos seios, você me arranhando ainda mais em resposta, fazendo uma rebolada lateral de enlouquecer. Mordeu minha orelha e disse:

-Quero...mais... deita...direito...

Me arrastei como pude pra cima da cama, te puxando junto, não queria perder nosso encaixe de jeito nenhum. Uma vez eu deitado, espalmou as mãos criminosas no meu peito e se sentou, ficando paradinha, e me olhando. Então senti. Você de forma controlada contraindo a musculatura, me apertando dentro de si. E rindo do meu desespero, enquanto curtia breves tremores, como se fossem choques curtos. E aí veio a cartada final. Começou a pular forte, de uma vez, sorrindo, gemendo alto.

Prosseguimos, nos conhecendo, vendo como o outro gostava não só nessa, mas em outras oportunidades. Veio o namoro sério, o morar junto. Hoje estou aqui, com você deitada sobre mim, acordando enquando boceja e passa as unhas suave em meu braço, um risinho sacana que aprecio pelo espelho. E tudo, tudo isso começou lá naquele lual. Dou graças a todo tipo de deus ou santidade por ter tido a coragem de ter ido com você pegar aquela cerveja. Graças a isso, estamos até hoje escrevendo nossa história juntos. Graças a aquele pequeno momento, hoje seu corpo, seu cheiro, seu jeito, são uma realidade na minha vida. São mais que conjecturas. São mais que um “talvez”.

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