Ângulos - Priscila (Cap.12)

Acordei de um sobressalto. Maldito fim de semana curto demais. Saí correndo pro banheiro, banhei depressa, e me vesti mais depressa ainda. Ainda tava com a visão turva quando calcei o salto ao lado da porta, quase caí. Tranquei, e atravessei o corredor em direção ao elevador. Me olhei no espelho dele enquanto passava lenço umidecido no rosto. Teria que me maquiar entre os sinais, no trânsito. Tava guardando a caixinha de lenço de volta na bolsa quando o elevador parou no décimo segundo andar,pra entrada de uma mulher pouco mais velha que eu, empurrando um carrinho de bebê. Percebi que ela meio que me mediu, e ou eu imaginei coisas, ou tinha que meio uma inveja no olhar dela. Aquilo serviu de certa forma como combustível pra mim. Se ranhenta desse jeito sou capaz de despertar inveja, deve ser porque eu tô com tudo em cima.
Descemos as duas no estacionamento sem trocar palavra. Entrei no meu uninho honesto já jogando a bolsa no banco do passgeiro e tirando o salto pra dirigir. Fui fazendo a maquiagem no meio do trânsito mesmo,  e olhando rapidinho o whats da empresa.
Consegui chegar no limite do tempo pra bater o ponto. Fui direto pra minha sala, hoje seria um longo dia, nosso maior cliente pediu o balanço semestral, e isso entrou como prioridade do escritório ao longo da semana. Ah, e minha sala é modo de dizer, divido com mais dois colegas. Nos cumprimentamos ainda de pé, pelo visto eles também quase se atrasaram.
Larguei a bolsa debaixo da mesa e liguei o pc, já entediada. O dia prometia ser chato e ao mesmo tempo com muita pressão. Abri o chat interno pra pegar minha parte do serviço. Confirmei com meus colegas, e pedi da copa três cafés gigantes, bem quentes, e o meu sem açúcar.
Tava com a primeira planilha terminando de carregar quando a porta abriu. Eu dei sorte. Minha namorada que veio entregar o café pra gente. A empresa, digamos, preza por “valores tradicionais”, então ninguém aqui dentro sabe, o que nos limita bastante. Nada de um selinho de bom dia pra mim hoje. E passamos o fim de semana afastadas porque minha sogra tá no hospital. Minha neném tá com um rosto super cansado, mas ainda assim abriu um sorrisão pra nós três enquanto colocava os cafés na mesa. Serviu o meu primeiro, e percebi um bilhete embaixo. Passei o polegar entre os dedos indicador e médio da mesma mão (nosso sinal secreto) pra mostrar que tinha visto.
-Se prepara pra fazer vários desse hoje, o dia promete. Muito obrigado. E eu tô falando sério. Não nos deixe parar por falta de combustível.
Todos rimos, mas eu percebi que ele falou aquilo meio que feliz demais, colocando uma entonação que pretendia ser...galanteadora? A colega do meu lado fez pra mim uma cara de “fala sério”, que eu a muito custo consegui retribuir, mas queimando de raiva por dentro, quem esse desgraçado maldito pensa que é pra paquerar a minha...
-Com certeza, não vou deixar nenhum de vocês parar hoje, são o coração da empresa. Com licença. E até daqui a pouco.
Deu uma risada e saiu da sala. Não pude deixar de notar que ela disse isso ampliando o olhar pra nós três, e falou “coração” bem quando era a vez de olhar pra mim. Contive o sorriso, e a vontade de ir atrás dela, e virei um gole de café, escondendo o bilhete com a mão. Peguei minha bolsa do chão em busca do celular, e aproveitei pra abrir o bilhete lá dentro e ler rapidinho:
Preciso de você
AGORA!!!
Embaixo tinha o desenho de um beijo em batom. Larguei o papelzinho lá e peguei o celular. Na tela, a notificação dela, dizendo apenas “AGORA!!!!!”. Sorri e larguei o celular na mesa, evitei conectar no pc pra não me tirar o foco, pus uma música bem alta no fone de ouvido, e comecei a trabalhar.
Muitas contas e goles de café depois, eu já tava completamente exausta, e ainda não era nem dez e meia. Da segunda-feira. Puta merda. Tirei os óculos e me encostei na cadeira, de olhos fechados. Curti um pouco mais atenta a música aleatória tocando. De repente um toque na minha mão. Abro os olhos. É ela de novo. Derrubei o fone.
-Foi aqui que pediram mais um café forte sem açúcar, pra ontem?
Ela sublinhou as duas últimas palavras franzindo a testa pra mim, escondida pelo cabelo caído nas laterais do rosto.
-Não sei, foi?
-O meu acabou e eu tomei a liberdade de pedir pra você também gata.
-Valeu linda, você é um amor.
Falei me dirigindo à minha colega, mas olhando pra gostosa à minha frente. Ela se limitou a pegar a xícara vazia e olhar com força pra porta, antes de se virar jovialmente e sair com a bandeja na mão.
Provei o café novo. Sabia. Doce dessa vez, e tão fraco que ela possível ver através até o fundo da xícara. Típico.
-Gente, esse café todo tá me fazendo explodir, vou ali no banheiro.
Um segundo depois me arrependi de falar isso alto, e se minha parceira quisesse ir junto?
-Acabei de voltar de lá, senão adoraria uma desculpa pra sair e esticar as pernas. Mas você sabe, é a última segunda-feira do mês. Cuidado.
Acenei com a cabeça que tinha entendido o recado. Saí com o celular na mão.  Mandei uma mensagem pra minha gata, “banheiro do piso três”. E em seguida, “AGORA!!!!”. Dois segundos depois, ela viu, e ficou off-line. Subi pra lá, entrei no banheiro e tranquei a porta. Pouco depois, um batuque ritmado. Deixei ela entrar.
-Eu trouxe maquiagem.
Falou isso já me agarrando e empurrando pra parede. Matei minha fome dela, apesar daquele macacão de serviço atrapalhando. Beijei, beijei, e beijei mais. Mordidinhas de leve na orelha, mas me vali da gola alta do uniforme dela pra dar um belo chupão. Puxei o zíper das costas, e deixei-a exposta pra mim. Ela mesma se virou pro espelho, e eu fiquei atrás dela.
-Você me paga por esse chupão.
-Eu é que tô pagando,  por aquele delicioso café.
-Se esse é o pagamento, talvez eu faça assim todo dia...
Falou aquilo empurrando o macacão pra baixo, ficando peladinha da cintura pra cima, apenas um topzinho de elastano, mostrando pra mim os biquinhos duros. Apertei neles, dei um beijo no pescoço. Desci uma mão. Ela levantou o braço pegou minha nuca, fazendo carão.
-Trouxe o celular?
-Claro. Vai.
Entreguei o celular pra ela, que abriu a câmera e posou ainda mais. Empurrei uma mão bem dentro da calcinha, fiz um movimento circular de leve.
-Para, senão eu fico me tremendo toda.
-Desculpa.
Marquei a palavra com uma apertadinha no seio esquerdo. Ela me sorriu pelo espelho e apontou a câmera.
-Essa eu vou chamar de “a dama e a vagabunda”
-Não gostei. Acho que prefiro “a vadia e a vagabunda”
Rimos juntas e ela clicou. Largou o celular na pia e se virou pra mim, quando ouço passos no corredor. E vozes. Pior ainda, uma voz. Do sócio do escritório, que só vem uma vez por mês. Preciso voltar pro trabalho o mais rápido possível. Ela também parece ter reconhecido a voz.
-É ele?
-É sim. 
-Você tem que voltar já!
Do outro lado da porta, o gerente/puxa-saco fala, todo solícito.
-Penso que o senhor já terminou por aqui, Dr. Alberto.

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